terça-feira, 29 de junho de 2010

O protector.

Ok gente, eu simplesmente não resisti. Quem me conheçe, quem convive comigo, quem sentiu os meus momentos e sensações com cor e som, sem chuva ou interferências, sabe bem que, a personagem está muito parecida comigo. O seguinte texto não fui eu quem escreveu, mas sim a Catarina. E TU, acalma'te. Lê com os outros olhos <3

"All this time I was pretending,
I really wanted a Happy Ending..."

Quando o conheci ele não me parecia muito diferente de todos os outros que conhecera. Por outros, entenda-se pessoas, não homens, não exclusivamente homens sem dúvida. Estava ali, sentado a comer uma bola de berlim e a contemplar o mar. Já tinha ouvido falar muito sobre ele, tal como toda a gente, mas nunca tinha falado com ele. Por falar entenda-se, falar, falar, porque trocava cumprimentos rápidos, como toda a gente.
Acho que esse é dos nossos males e um dos motivos pelos quais gostamos de máquinas, tornamos-nos automatizados, tornamos-nos todos iguais. Era isso que o matava em silêncio, a indiferença, o desapego, as pessoas formatadas, os sentimentos anulados. Ele não era assim, ele tinha vida, tinha alma, achava que era o único. Felizmente para ele, estava errado...
A maré estava cheia, praticamente não havia areia na praia, o tempo estava nublado, não era um dia de praia, mas era um dos meus dias preferidos para lá estar. Sem me aperceber parei atrás dele para contemplar o mar. Não o vi, mas ele viu-me, devo-lhe ter parecido diferente porque meteu conversa comigo.
Dez minutos depois estávamos os dois sentados a comer bolas de berlim e a falar como se nos tivéssemos conhecido toda a vida. Se estão há espera de ler uma história de amor, podem parar de ler aqui, não houve amor nesta história, houve compreensão.
Dois ermitas que se encontraram no meio do deserto, um só tinha água, outro só tinha pão e que trocaram um pouco de ambos para sobreviverem. Ambos tínhamos esquemas, defesas contra o mundo exterior, que não valia a pena usarmos um no outro, conhecíamos os truques todos.
Ele tinha amado com todo o seu coração, saira magoado vezes demais para as poder contar. No fundo sabia que o fazia de propósito, queria acreditar que não valia a pena, não queria acreditar na força do amor e por isso chamava a ele relações que jamais iriam resultar.
- Uma vez - confessou-me - apaixonei-me pela lua...
- Pela lua?
- Ela era tão bonita... E depois ouvi uma história sobre uma princesa que lá vivia... Sempre que olhava para a lua sorria, só podia ser amor, então descobri que na verdade ela era uma mulher que desobedecera ao marido e fora banida para a lua... Acho que posso dizer que foi a primeira história que correu mal...
Olhamos para o mar em silêncio. A maré começava a vazar lentamente mas a areia na praia ainda era pouca mesmo assim, um grupo de adolescentes joga voleibal calmamente. O som da bola a bater nos braços e mãos em ritmo com as ondas do mar.
- E tu? - perguntou-me - como fazes?
- Eu...
- Sim, como mantens as pessoas à distância?
- Ah... Acho que deixei de acreditar...
Ele rolou os olhos.
-Ãh, ãh... Não me mintas, que de onde vens já eu vim...
Ri-me. E ele sorriu para mim acabando a bola de berlim e deixando o seu olhar perder-se no horizonte.
- Sabes - disse-me - a minha irmã tenho medo por ela. Os rapazes são complicados...
- Eu sei, eu também...
Ele sorriu.
- Ah sim?
- Sim - respondi - é assim que os mantenho à distância...
Continuou a falar e disse-me tudo o que eu já sabia. Os poucos amigos verdadeiros que tinha, como os protegia de tudo o que podia, o mundo era um lugar cruel, os amigos de verdade dele eram pura porcelana. Ele fazia de tudo para nada de mal lhes tocasse. Uma tarefa ingrata, ser o dono de uma loja de porcelanas onde entrou por engano um elefante. Ele era o dono da loja, os amigos as porcelanas, a vida, o mundo, as pessoas, os elefantes.
- Os?
Olhei para o horizonte. A verdade tinha-me fugido pelo canto da boca, ele perguntara pelas pessoas, eu respondera pelos homens. Olhando com um riso maroto nos olhos respondi:
- Apaixonavam-se sempre pela pessoa errada, sabes? Fiquei sempre nos "ses", não é que não queira, simplesmente parece que não consigo...
Ele assentiu tristemente e eu tive de conter as lágrimas.
- Não sou o único então... A ter sentimentos?
- Claro que não!!
- Por segundos pensei que era o último...
- Dah! Nunca serás o último... Penso viver até aos 100... Pelo menos...
- Hmmm.... Isso dá-me alguma margem... Achas que há mais?
- Com toda a certeza...
- Boa, assim posso continuar a protegê-los a todos... Sem o remorso de que alguém como eu anda sem amor na vida...
- Vives miserável porque queres?
- Nã, simplesmente nunca me interessou um final feliz, se tudo acabar acabou, enquanto houver miséria haverá mais história e enquanto houver história eu vivo... Percebes?
Acho que percebo e respeito, mas não o quero para mim, pensei sem coragem para falar em voz alta. Uma rapariga qualquer passou e vendo-o virou-lhe o rosto.
- A melhor amiga da minha prima - disse num murmúrio - ajudei-a numa fase muito difícil...
- Nem te falou...
- Raramente falam....
- Porque as ajudas então?
- Assim a história não acaba, elas precisam de mim...
Nessa altura um rapaz numa mota chegou e chamou por ele. Sorrindo ele despediu-se e partiu para ao pé do "amigo". Seria um verdadeiro amigo? Pelo menos tinham rido e falado antes dele pôr o capacete e subir para a mota. O amigo dele tinha-me mesmo acenado.
- Mais uma que estás a ajudar?
Não deveria ter ouvido isto, mas o vento estava de feição.
- Não, desta vez foi ela que me ajudou a mim...
O amigo dele olhou para mim e sorriu-me. Sorri para ele e acenei. Foi então que eles partiram. Enquanto a minha boleia não chegava pensei em tudo o que tinha sido dito e no nome dele. Era giro que ele protegesse tanto os amigos, saberia ele que era esse o significado do seu nome? Aquele que protege. Pareceu-me adequado.



Esta é pela Arco-Íris. =oD Porque o Alexandre a escreveu para mim, digam as raparigas dos coments o que disserem! XD

3 comentários:

Marta disse...

és das poucas pessoas com quem tenho vontade de falar, acredita.

Marta disse...

não te preocupes $: já falamos.

Qéé disse...

sabia que o 'TU' era para mim, antes de entrar na hiperligação, xD

dou o braço a torcer (DESTA VEZ), está lindo, <3