sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Aqui jaz, mais um corpo no meio de tantos.

O vento itensificou.
O frio, avassalador como estava, começou a apoderar-se dele.
Sem a sua essência, começou a gelar.
Os dentes a tremer.
A pele a empalidecer.

E sinceramente não sei mais.
Só sei que por causa da tua estupidez, da tua ignorãncia, do teu egoísmo!, eu naquele dia, naquele momento, gelei.
E sabes porquê?
Porque até aquele tempo, era o teu calor que me mantinha vivo.
O teu hálito fresco que me refrescava.
Eras tu quem mantinha a minha alma dentro do meu corpo.

Agora sem ti, quem cuidará disso?
Ninguém.
Não há ninguém com um coração tão calorento que possa afastar o frio.
Não há toque tão fresco como o teu que possa impedir a minha temperatura de disparar.
Não há forma de manter minha alma no sítio.
Não há forma de não deitar o meu último suspiro.

Consegues viver com isto?
Que a causa da minha morte és tu?
Desejo com todas as forças que me restam, que vivas com sofrimento.
Porque para onde vou, não há dor.
E alguém tem que pagar pela minha morte.

Nos últimos segundos de vida que me restaram, eu falei.
Falei e disse: "Fui.".
O último momento da minha vida foi tão simples quanto isso.
Um despedimento de tudo e de todos.

O coração parou.
Ele arfou.
Um último contorcer de dor invadiu aquele corpo quase sem vida.
Inspirou.
Expirou.
E com o último suspiro, a sua alma largou aquele corpo.
Saíu com toda a calma e juntou-se a todas as outras encontradas no ar.

[No enterro, ela estava presente.]

Como toda a gente fez, ela chorou.
Como toda a gente fez, ela soluçou.
Como toda a gente fez, ela se lamentou.
Como toda a gente fez, ela fungou.
E como toda a gente fez, ela se diriguiu ao caixão e se despediu.
Mas, sabe lá o diabo porquê, ela quis ser a última.

A família foi embora.
Os amigos para casa foram.
O padre, pregar para outras bandas, teve que ir.
Restou o coveiro.
Aproximou-se do caixão já fechado.
Abriu-o.
Olhou-o nos olhos e despediu-se:
"Aqui jaz, mais um corpo no meio de tantos."

11 comentários:

Carla Valongo disse...

Tipo em vez de um Adeus, disse um Fui? xD
Ok cada um com a sua panca xD

Bárbara disse...

Está triste, mas está lindoooo *.*
Ainda etou à espera do teu livro :C

C disse...

aiiii, tá forte :s
que passa Nequinho?

Qéé disse...

muito triste, :x

Freitas disse...

"Fui"
Profuuuuundo ;P

Penas ^^ disse...

PIEEEGAAAS :P

Opa que morbido, gente a morrer no Haiti e tu com estas conversas de um tpo ue morreu.

Vai bugiar :x

Anónimo disse...

és mesmo tu que escreves isto ?
:o
o texto é lindo , deixa que te diga.

Carla Valongo disse...

Porquê? xD

Carla Valongo disse...

Cheguei a seguir o blog dela, e aquilo que ela lá tem é de doidos!! :O

Mas era pa comentar o que ela disse e não o que eu já sabia dela nera? xD
Vais-me dizer qu enunca te tinham dito isso? --'

Flávio Miguel Mata disse...

Amei tanto *-*
Escreves com tanto sentimento, com tanta alma :)

PauloSilva disse...

Está bonito e adorei a parte do "como toda a gente fez". Porque é realmente o que acontece na nossa sociedade. {não falo nos funerais}

:D