quarta-feira, 26 de maio de 2010

4ª Carta (Nunca) Achada.

Uma vez mais. Isto só pode ser um sonho sonhado e idealizado por ela. Sim, ela. Essa escuridão comprometedora de perfeição. Mas e se for ? Que remédio tenho eu além sonhar e sonhar e sonhar o que ela já escreveu ? Pois, não há outro remédio.

A minha mente hoje relembrou'me uma música antiga. Música do meu passado. Daquele passado que eu imagino que tive. Apesar da distância ao passado ainda conhecia a letra. Era nela que eu pensava quando a escuridão iluminou'se. Iluminou'se. É como olhar para um quadro preto, completamente preto. E alguém, sem darmos conta, desenhar um ponto branco no quadro. Quando nos apercebessemos já estavamos a olhar para uma escuridão com um ponto branco. Uma luzita. Ela começou aproximar'se do local, onde, suponho eu, estavam os meus pés, até parar. Baixei'me e bati com a cabeça no escuro. Era só mais alguma coisa que estava no caminho. Um passo atrás eu dei e voltei a baixar'me. Peguei no quadrado de luz que brilhava e.. mais uma carta!

Esta carta:

"Queria te afirmar, convicta, de que sou alguém. Que carrego, em mim, a mesma crucificação que tu. E ando aqui, a voar de árvore em árvore, a sentir o vento em mim, sem eu sequer ter controlo sobre a direcção para onde me guiam. Não tenho sequer controlo sobre os meus sentimentos. Os nossos sentimentos. Por quem quer que seja. Onde quer que seja. Somos portadores de igualdades. Do vazio. Vazio esse trazido pelo desespero das paredes que nos sufocam. Das canetas gastas. Dos papéis de socorro perdidos. Não só sinto uma humanidade calorenta a afogar-me a pele, como sinto que a meta da população, é serem infames. Que sejam. Enquanto nós nos questionamos continuamente - que raio de ar é este que respiro? que sufoca! - Em palavras já usadas em diálogos contigo, que claro, são monólogos no fundo, tento responder-te. Responder-me. Abraçar-me em respostas a perguntas tão mal formuladas e que surgem quase que repentinamente. Sem parar. Queria-te afirmar que sou alguém. Que te lê. No entanto, se o sou, mal o sei. Idependentemente de quem eu seja, onde quer que estejas e do meu estado psíquico. Sente-te minimamente compreendido. A minha existência é a prova necessária para saberes que os insanos, não somos nós, mas quem nós limita a isto."




Esta cruz não devia ser carregada por mais ninguém. Não devia, e desculpa por isso. Peço'te desculpa porque não devia haver ninguém nesta situação além de mim. Não devia! Tu ainda voas de árvore em árvore, eu à muito que não vejo uma. Estas paredes são mais espessas que o centro da terra, mais escuras que a escuridão preta como o preto e bruta como tudo. Não sei se há algo para lá delas. Elas só me dão a conhecer este papel e esta caneta com que (te) escrevo. Elas cospem isto como eu respiro.
Os meus olhos nada comem, os meus ouvidos nada vêm. O meu nariz só leva mesmo com esse ar, que ambos sabemos o pesado que ele é. O meu corpo só sente e só se desgasta. Desgasta'me aqui, pois no tempo não.
Monólogos. Sei muito bem o que isso é. Aqui, nada faço a não ser monologar. A escuridão sempre me ouve, mas nunca me responde. Só tu, oh ser correnpondido.
Começo a acreditar na tua palavra. Nas tuas letras escritas. És mesmo alguém. Nada poderia saber o que passo a não ser alguém na mesma situação. Agora, será que somos só nós que carregamos este fardo? Este saco cheio às costas? 

Será a escuridão e este mundo incompreensivel, cheio de palavras e negrumes, quem nos enche o saco?

Obrigado Pessoa, obrigado.

5 comentários:

PauloSilva disse...

Ninguém consegue, infelizmente, controlar os seus sentimentos.

Está super grande o texto rapaz, chego ao fim um pouco perdido, jesus.

Enfim: está bonito (:

Zoe Baxter disse...

Alexandre,
Estás de parabéns. Para mim, este é um dakeles textos, em que parece que o escreveste so para mim, mesmo sabendo que nao foi o caso... XD

Este texto esta fantástico. Parabéns!

Zoe Baxter disse...

o mérito e todo teu :P

Carla Valongo disse...

Não sabes a sorte que tens --'
Agradecida.

Qéé disse...

adorei