segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A consciência tem peso.

Já estava.
Não havia volta a dar.
Ela já o tinha concretizado.
Nada estava sujo, nada tinha sangue.
Estava a ser uma morte dolorosa, mas limpa.

Um ano passou.
Um doloroso e lento ano.
Não durmo nada, choro tanto, sofro imenso!
Ele morreu e eu igualmente o fiz.
Morri para tudo.
Eu traí-o.
Eu larguei-o.
Eu maltratei-o.
Eu matei-o completamente por dentro.
Mas senti-me bem ao fazê-lo.
Tinha perdido o interesse nele e não havia mais nada a fazer.
Sei que fui má, sei que as minhas acções nunca deviam ter sido concretizadas, mas foram.
Agora, todos os dias, choro por ti.

Os pés ainda tremiam.
Sinal que ainda viva ela estava.
Aliás, ela toda se controcia.
Respirar? Mentira.
Já só restava o ar que ainda tinha nos pulmões.
O cinto continuava esticado e esticado permanecerá durante bastante tempo..


Viver é quase um fardo.
Um castigo!
Não sei porque assim é.
Serão remorsos?
Serão culpas?
Será o karma?
Não sei, não sei, não sei!
Só sei que morta estou bem melhor e assim será.
Vim para a casa do campo.
Sabem que vim, mas não sabem quanto tempo ia cá permanecer.
Vizinhos não há, como sabem.
Portanto nada me impedirá de o fazer.

Um zumbido agudo era tudo o que ecoava naquela cabeça.
O corpo, devagar baloiçava.
Parecia já morta, mas não.
Os pés ainda pouco tremiam.
Já não restava ar nenhum naquele corpo inerte.
Era uma questão de segundos até tudo paralizar e ela morrer.

Não sei quando vão encontrar esta carta.
Mas já nada poderam fazer.
O meu último pedido é que escrevam na minha laje "..."

Paralizou.
Morreu. 
Sim ela está mesmo morta.
Já não há sangue a correr pelas estradas daquele corpo.
Já não há movimento naquele mundo.
A alma fora dele se encontra.
O último suspiro já foi lançado.
Agora só existe um corpo pendurado pelo tecto que baloiça para frente, para trás, para a frente, para trás..

Dois messes passaram até que a encontraram.
Em putrefacção o corpo estava.
Depois da polícia encontrar o corpo, depois da família ter vindo buscar o corpo, depois de tudo estar preparado, o funeral chegou.
Chegou como outro dia qualquer.
Mas este chegou violente e feio.
Chuvia tão intensamente, trovejava tão loucamente, o vento soprava velozmente..
Mas mesmo assim toda a família/conhecidos foram ao funeral.
Foi posto juntamente com o corpo a carta que ele próprio tinha escrito.
E assim se decorreu um funeral como todos os outros..

O último desejo dela foi concretizado.
Ainda hoje, a laje dela, é única naquele cemitério.
Naquele e em muitos outros..
Não é por ser maior ou menor.
Por estar mais ou menos bem trabalhada.
Não é nada disso.
Aliás, havia (e há) lajes bem melhores naquele cemitério.
Mas sabem..
Não são todas as lajes que tem escrito "Aqui jaz, mais um corpo no meio de tantos."

PS: Quem lê regularmente este blog, já deve ter percebido que este texto é uma continuação do texto anterior Aqui jaz, mais um corpo no meio de tantos. Para quem não leu o texto anterior, não o aconselho nem nada do género. Queres ler lê, se não tiveres para esse trabalho, esqueçe lá isso. Nada perdes <3


3 comentários:

Carla Valongo disse...

Giganteeee xD
Mas tá bom sim (:

Freitas disse...

Foi bem foi bem *_*

Tens jeitinho pa coisa

Flávio Miguel Mata disse...

Tem peso sim, e há pessoas que ficam bem carregadas com ela.